domingo, 18 de março de 2007

As funções: Nada do que é humano me apavora. Caio Fernando Abreu

"Não sei. Nada do que é humano me apavora. Não deve apavorar ninguém. Esta censura é uma coisa que eu nunca compreendi direito; porque certas coisas podem ser ditas e outras não. Outro dia, meu terapeuta falou uma coisa muito inteligente. Saiu uma crítica negativa sobre Os dragões não conhecem o paraíso na Folha de São Paulo. Cheguei arrasado na terapia, fiz aquele discurso de que serve escrever ficção neste País em que tem gente morrendo de fome. Aí, ele me falou assim: "mas os escritores, os ficcionistas e os poetas são os biógrafos da emoção. Se alguém, no ano de 2010, quiser saber o que as pessoas sentiam nos anos 80, ele não vai ler Veja, o Estado de São Paulo, o Jornal do Brasil; ele vai pegar a ficção, os poetas. Você tem que estar consciente de que a tua função social é fazer esta biografia do emocional". Aí a ficha caiu e eu comecei a me sentir útil de novo." (Retirada de uma entrevista em 1988).

Nenhum comentário: